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Estava a contar a minha ida à tropa. As histórias do passado. Tenho memórias das noites mal dormidas, onde os olhos teimavam em fechar. Eram precisos palitos duracell. Nem o gel me segurava o cabelo com o frio que estava cá fora. Faziam -2•C.
Eu batia ao dente, tinha os pés congelados e a boca dormente. Parecia um robô no meio de um pão de ló.
Tinha idade para isto? Não estava melhor em casa quentinho?
Em casa também não sabia o que era a vida! Eu tinha, naquela altura, sei lá…
Ora, hoje tenho cinquenta e poucos, ontem tinha dezoito. Já lá vão trinta e oito e pico de diferença.
– Ah, marotos! Queriam vocês saber a minha idade!
Era um pau de virar tripas, franzino, uma estaca de 1,90 cm. Mal sabia o que me esperava. Ninguém sabe. Naquela altura, eu queria roda no ar. Era novo! Estava na flor da minha juventude. Tinha que cumprir as minhas obrigações. O serviço militar era obrigatório.
E lá fui eu. Farda vestida, boina na cabeça. Vamos lá marchar! Up! Up! Up! Marchaaaaar!
A minha memória, traz-me muito estes acontecimentos. Não foram tormentos, muito pelo contrário. Foram tempos muito duros, mas prazerosos. Fizeram-me mais homem! (Machismos à parte!)
Fizeram de mim o que sou hoje! Mais louco, mais lutador, mais duro no bom sentido. Se não fosse a tropa, era um qualquer. Não tinha objetivos, não me tinha governado, trabalhado e sustentado.
– e olhem que eu, trabalhei nos campos, rezava aos santos, chovia a cântaros e comia sentado, aí pelos cantos.
Agora estou mais estabilizado. O trabalho não é tão duro. Mais uns anos e entro na reforma. Já falta pouco. Estou bem, não estou louco. Soube cuidar-me.
– Até vos digo mais. Podia reformar-me há 20 anos. A minha vida de emigrante, faz-me ganhar muito guito, money.
Estou este tempo todo na Holanda, longe dos meus. Ganho rodos e rodos de dinheiro. E hoje, estou aqui. Vim aos meus aposentos, visitar a minha família.
Já matei saudades. Já abracei e beijei muito os meus. Já não sou muito novo! Hoje estou, amanhã vou.