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A solidão estava suspensa e pouco densa. Falávamos sobre as memórias e histórias, eram bastantes. Relembrava o tempo da tropa. Era um soldado esfarrapado mas bem conjugado. Sabia o meu lugar e como estar. Sabia viver sem tropeçar nos outros e querer esbarrá-los, sem estalos.

Eu sabia ser digno, longe do maligno. Era fidedigno. E porque digo isso?

Eu sabia fazer continência sem grande ciência. Só aí, já era de bom grado e respeito. Marchava de forma solta, sem parecer que tinha saia travada. Abria as pernas com destreza e sem safadeza. Gritava e honrava a pátria, voz grossa e forte e foco na minha sorte. Achava eu.

Sempre fui alto museu. Estatura de foguetão, nem um lápis me fazia um arranhão. Era intimidante, bruto, fruto da idade. Falava como um homem grande e para além do português, alemão, francês e inglês. Era o pito das línguas. Sabia falar até de cabeça para baixo.

E o que me valia isso? Nada!
tinha os mesmo direitos que os outros. Era justo. Não era, nem sou mais que ninguém.
Afinal, a aparência ilude. Eu já comi pedras, pão mais duro que um muro, sopa de nabos e rabos, arroz com arroz, massa com massa e vesti roupa a cheirar a naftalina e traça. A dignidade basta para ser alguém. Porque até se conhecer, ver apenas por fora, não se vê bem.

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